A saúde do viajante nos parece um tema negligenciado. Pouco se fala sobre isso, em comparação a outros preparativos de viagens. Para quem vai se lançar em uma longa viagem, como nós, é super importante começar a pensar nisso com pelo menos 6 meses antes da data de partida. Vamos explicar o porquê.
Como morávamos no Rio de Janeiro, iniciamos lá a busca por um infectologista que tivesse alguma experiência com viagens para nos orientar. Para nossa grata surpresa, encontramos o CIVES – Centro de Informações em Saúde para Viajantes da UFRJ. O site deles é modesto mas possui informações interessantes de orientações gerais para viajantes (http://www.cives.ufrj.br). No site também vimos que seria possível agendar uma consulta com um médico da UFRJ, que daria orientações mais específicas para nosso roteiro de viagem e nos atenderia gratuitamente. Melhor impossível! Logo enviamos e-mail e conseguimos agendar uma consulta para dali 15 dias.
No dia da consulta, fomos até o campus da Urca da UFRJ, localizada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. O Cives fica lá dentro, e foi um pouco difícil encontrá-lo de primeira. Pedimos informações algumas vezes, ninguém sabia ao certo onde ficava, mas depois de 15 minutos perdidos dentro daquele campus enorme, encontramos!
Foto: Container de atendimento do CIVES
Chegando lá entendemos o motivo de não conseguir informações precisas. O lugar é pequeno, discreto e com uma placa de identificação que só se pode ler bem de perto.
No consultório-container, quem nos atendeu foi a Dra. Káris Rodrigues. Uma profissional sem igual! Quando chegamos para a consulta ela já estava com nosso roteiro aberto no computador (tínhamos enviado por e-mail no agendamento da consulta). Já tinha identificado todas as áreas de risco e estava preparada para nos dar todas as orientações!
Como nosso roteiro é extenso, e estávamos falando de uma viagem de 4 anos, não conseguimos concluir todos os temas em 1 só consulta. Ao total foram 2 consultas de 2h de duração cada! Acho que dá para perceber o tamanho da atenção, dedicação e cuidado que a Dra. Káris tem com seus pacientes, não é mesmo?
Foto: Nosso atendimento com a Dra. Káris
Falamos de muitas coisas: cuidados que devemos ter com alimentação pelo mundo, higienização dos nossos alimentos, tratamento da nossa água no motorhome, altitude quando estivermos de carro, altitude quando estivermos fazendo trekking, diarréia, doenças infecciosas, tratamento com antibióticos na estrada, remédios para levar, malária, vacinas para tomar antes da data de partida e vacinas que teríamos que tomar na estrada. Quanta informação!
Depois de aprender tanto com a Dra. Káris, podemos falar com total segurança que é fundamental para quem vai fazer uma viagem longa visitar um médico especialista em medicina do viajante. Existem muitas questões que vão além do senso comum e vacinas.
Falando em vacinas, algumas que ela nos recomendou tomar precisam de 2 ou 3 doses com intervalo de tempo considerável. Por isso nossa recomendação em ter esse encaminhamento de vacinação o quanto antes para poder buscar os locais adequados e fazer tudo com tranquilidade. Outras tivemos dificuldade em encontrar, outras custam muito caro e só estão disponíveis na rede privada. Aí está outro motivo para fazer tudo com antecedência: não precisar desembolsar um valor muito alto na véspera da viagem. No total, tivemos que tomar 10 vacinas diferentes, sendo que apenas 4 conseguimos pela rede pública (sem custo).
Uma delas, em especial, foi a que nos deu mais trabalho: vacina de pré-exposição da raiva. Na consulta com a Dra. Káris ela nos explicou sobre o risco que alguns países por onde vamos passar tem com esta doença, que por sinal é muito grave, e dependendo das condições do local em que estaremos, pode ser fatal.
Como nós iremos acampar, viajar por áreas rurais, áreas de risco e fazer trabalho voluntário com animais, recebemos a missão de fazer uma vacina de pré-exposição da doença, para que nossos anticorpos já trabalhem antes de uma eventual exposição com a doença. Com essa proteção, no caso de uma infecção acontecer, o tratamento é mais simples e riscos menores.
Em Curitiba, nossa cidade natal e onde estamos morando nos últimos 2 meses antes da viagem, procuramos unidades de saúde com a receita da vacina em mãos (que é uma receita especial, com guias controladas) e não conseguimos aprovação para nos vacinar. Para piorar, não encontramos essa vacina na rede privada. Entramos em contato com a Secretaria da Saúde do Paraná, falamos com diversas pessoas, insistimos e aguardamos. Depois de 3 semanas conseguimos a liberação para aplicar a vacina! Quase no prazo limite do nosso plano de viagem! Essa vacina é feita em 3 doses: primeira aplicação, segunda após 7 dias corridos e terceira após 28 dias corridos.
Em resumo, esperamos que essa nossa experiência ajude e sensibilize os futuros viajantes para as questões de saúde. Não deixem para última hora!
Hoje saímos para nossa expedição mais seguros, com muito mais conhecimento e com a certeza que fizemos o possível para minimizar os riscos da nossa aventura.
Para os cariocas ou quem mais se interessar em consultar com a Dra. Káris, compartilhamos aqui o email de agendamento!
Abraços,
Ale e Leo